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Paixão platônica de academia, acontece nas melhores famílias

No meio dos supinos, da turma do pilates e das mais gatas da musculação, existe sempre um príncipe encantado, em qualquer academia de bairro.
Acontece com pessoas normais, eu juro, é mais fácil rolar a paixão platônica de academia do que um resfriado maldito bem no sábado ensolarado. Pra ela acontecer só basta a gente não assistir novela em closed caption enquanto faz esteira.
Ele é lindo, claro. E alto, claro. E tem atitude, é forte, mas nem tanto. Puxa ferro, mas não fica se olhando no espelho. Usa um tênis horroroso, assim como a gente, só que nele fica bonitinho. Porque ele usa bermudas legais (adoro dizer bermudas legais) e camisetas de banda de rock cortadas na gola, que fazem ele ser estiloso no meio dos bombadões.
E se reparar bem, ele sempre tem talentos incríveis. Faz transport sem usar as mãos, é do tipo corajoso. E sobe a escada pro segundo andar sem dar confiança pra galera do alongamento, com passos de dois em dois degraus.
É tenso quando percebemos que caimos no clichê de ficar meio obcecadas por um cara da academia. E quando ele passa perto da esteira, que a gente quase cai de vergonha? Será que ele repara? Acho que não, porque a atitude dos caras mais gatos de academia é a de estar sempre ouvindo um metal no shuffle sem olhar pra ninguém.
E quando dá vergonha de fazer aparelhos cafonas na frente dele, tipo usar a bike porque ta com preguiça de correr de shorts curto ou de levantar pesinhos minúsculos porque não agüenta pesões. Tenso é pouco.
O negócio fica sério quando começamos a nos arrumar pra ir fazer ginástica, com roupinhas melhores, corretivo, rimel e brinco de argola. Se você colocar brinco de argola pra ir na academia, já ta esperando namorar o paquera platônico com certeza.
Se começa a freqüentar o treino no mesmo horário que ele e se esforça pra ser admirada, pode esquecer, ta perdida. Sim, porque pra ser admirada por uma paixão de academia tem que ganhar credibilidade aumentando os pesos e fazendo trezentos abdominais! E pode anotar, se fizer aquele exercício bizarro da caneleira enorme, pro bumbum ficar musculoso, é casamento na certa.
A paixão platônica de academia é genial, é tão exageradamente platônica, que chega a ser ideal. Só vemos o cara de roupa de ginástica, então não fazemos idéia de como ele se veste, do que ouve, que lugares freqüenta e se ele é um babaca ou não.
Então podemos imaginar, criar um estilo pra ele, encher um ipod com bom gosto, fazer ele frequentar nossos bares favoritos e, claro, ler livros e ser um profissional de sucesso.
O melhor de tudo é que o cidadão nem sonha que o amamos silenciosamente, ou melhor, amamos a imagem que criamos dele. Ele malha em paz e nós ficamos neuróticas na esteira desviando o olhar quando ele passa, pra ele não sacar que somos apaixonadas platonicamente por um cara da academia. Já que mesmo sendo ele em questão, seria queima filme demais qualquer paquera saber disso.
E ficamos nessa paixão, imaginando como seriamos felizes, ele com as roupinhas que escolhemos pro estilo que criamos, na casa que imaginamos, com a voz que adoramos.
Ate que um dia ele não aparece mais no horário de sempre. Ele para de fazer musculação. Tentamos mais uns dois horários diferentes e nada. O cara some da academia, porque ficou sem grana pra pagar a mensalidade porque ta desempregado, ou arrumou uma namorada e desencanou de passar as noites treinando, mas também pode ser que tenha mudado de país ou foi transferido pra Cuiabá.
Sei lá, nunca vamos saber, afinal nem chegamos a perguntar o nome dele. E acaba o relacionamento.
                                                                                                             -  Jana Rosa

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